domingo, 3 de julho de 2011

A força da palavra


Há cerca de dois meses, encontrei-me com um familiar numa das estações de serviço na Praia para tomar um café. À chegada, disse-me que tinha acabado de perder 70 contos e perguntei-lhe logo onde deixou a carteira. A resposta saiu rápida: "ao fechar um negócio dei um preço, mas minutos depois chegou outro comprador e me ofereceu 70 contos a mais. Como já tinha dado a minha palavra, mantive o primeiro negócio".

Há duas semanas, o mundo do futebol foi supreendido com a notícia da transferência do técnico português André Villas-Boas do FC Porto para o Chelsea, da Inglaterra. Meses antes, o mesmo Villas-Boas dissera que estava sentado na cadeira de sonho e que gostaria de ficar 15 anos aí. Há menos de dois meses, ele pediu ao presidente do FC Porto para não vender os melhores jogadores, como Falcão  e Hulk, porque na próxima época a equipa seria ainda mais forte.

De repente, um fax muda tudo e o homem promete pagar 15 milhões de euros para ser "desobrigado" de ficar no FC Porto. Simples, claro e rápido, como deve ser qualquer negócio.

Villas-Boas não pode ser criticado por desejar treinar uma das melhores equipas da Europa e ter um salário muito superior ao que auferia no FC Porto. No entanto, ele mesmo aceita que os adeptos do FC Porto considerem a sua decisão uma traição e sabe-o porquê: ele faltou à palavra. Muito diferente da postura do personagem do primeiro parágrafo deste texto.

Ninguém gosta de ser traído, nem por actos, nem por palavras. No entanto, muita vezes fazemos aos outros aquilo que não gostamos de que nos façam a nós. Ou seja, violamos uma das regras basilares da vida e da sociedade, a Regra de Ouro.
Essa traição acontece repetidas vezes através da nossa palavra. Prometemos sem pensar, e, por este e outros motivos, não cumprimos o que prometemos. As consequências são terríveis tanto para quem falha - perde a confiança do próximo -, como para o prometido, que fica com as mãos abanar.

A falta de palavra ou o incumprimento dela é uma das causas de muitas crises que enfrentamos hoje, entre casais, entre pais e filhos, entre amigos, entre colegas, entre superiores e subordinados, entre líderes e liderados. Como diz um jurista amigo, cerca de 30 milhões de leis foram elaboradas na história da humanidade para tentar regular o que está estatuído em apenas 10 mandamentos.

Com certeza, se todo o ser humano cumprisse a sua palavra, o mundo seria muito, mais muito melhor.

Você não pode mudar o mundo, mas pode começar a mudar o mundo que está à sua volta, por exemplo, pela palavra. Que ela seja sim, sim, e não, não.

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